Quando comecei a escrever sobre videojogos, no já longínquo ano de 2009, contava-se pelos dedos das mãos o número de jogos desenvolvidos em Portugal ou por portugueses. A realidade de hoje, 15 anos depois, é bem diferente. O panorama do desenvolvimento nacional mudou radicalmente. Não só temos excelentes profissionais a trabalhar no estrangeiro para companhias de renome, como há cada vez mais jogos desenvolvidos em território nacional. Ainda há muito caminho a percorrer para Portugal se tornar numa potência deste meio, mas a evolução tem sido positiva.
Europa não é propriamente um jogo desenvolvido em Portugal. É da autoria de Helder Pinto, português que reside actualmente na Califórnia, Estados Unidos. Helder tem um currículo impressionante. Começou a trabalhar na Seed Studios, estúdio português que desenvolveu Under Siege, passou para Artista de Níveis na Crytek de Frankfurt, até que se tornou no Principal Art Lead da Blizzard, onde trabalhou em Project Titan, Diablo Reaper of Souls e Overwatch.
Sobre Europa
Data de lançamento: 11 de Outubro
Plataformas: PC, Nintendo Switch
Plataforma testada: PC
Género: Aventura, Indie
Produtor: Helder Pinto
Preço: 14,99 euros
Nos cinco últimos anos, no tempo livre criou e desenvolveu Europa, um jogo relaxante de exploração que tem como cenário a conhecida lua de Júpiter. É impossível negar a beleza que o jogo emana. Basta olhar para uma imagem de Europa para queremos mergulhar no seu mundo. É verdadeiramente paradisíaco, com uma estética que nos faz recordar jogos da Level-5 como Ni No Kuni ou The Legend of Zelda Breath of the Wild / Tears of the Kingdom. É aquele tipo de jogo em que qualquer captura de ecrã podia ser um wallpaper instantâneo.
Mas, em termos de gameplay, Europa não é um jogo de acção. Aliás, não tem sequer a opção de combate. O jogo é comparável a jogos como Journey e Flower da That Game Company. São jogos puramente contemplativos, em que sentes uma enorme satisfação apenas a divagar pelos cenários. Europa tem esse efeito em nós. Percorrer as colinas verdejantes, sentir a natureza à nossa volta, ver os animais pacíficos nas suas vidas, escutar a sua banda sonora calma, com toques de piano... o remédio perfeito para aliviar o stress do quotidiano.
A personagem que controlamos chama-se Zee, um andróide que parte numa aventura para procurar respostas. Lá no fundo, vemos uma ilha flutuante com longas cascatas de água na borda. Logo no início, encontramos folhas perdidas de um livro, que começam a ser narradas pelo seu autor. O narrador acompanha-nos ao longo da aventura e escutamos a sua voz encorajadora e ternurenta sempre que descobrimos uma nova página. A maioria das páginas estão em locais bem visíveis, de propósito para ser fácil acompanhar a história.
A história é tão bela como o resto do jogo. Não vou revelar spoilers, mas toca em pontos importantes como a preservação e respeito pela natureza, a ganância humana de explorar os recursos naturais sem olhar a consequências, e também a força dos laços familiares. O jogo tem uma mensagem bonita e uma narrativa que encaixa às mil maravilhas no género em que está inserido. Fica o aviso, contudo, que não é um jogo longo. A página Steam diz que o jogo dura entre 3 a 4 horas. Na verdade, terminei em 2h30m (tempo apontado no Steam).
O jogo tem vários coleccionáveis e upgrades para o dispositivo de flutuação que Zee carrega às costas. Os upgrades aumentam a capacidade de energia, permitindo que Zee ascenda no ar durante mais tempo, o que é útil para chegar a pontos mais altos e encontrar os colecionáveis escondidos (esmeraldas). Embora tenha encontrado bastantes upgrades, confesso que não me dediquei a encontrar as esmeraldas, por isso talvez tenha terminado tão rápido. Senti falta de um modo new gameplus no final, para poder voltar a jogar com os upgrades desbloqueados.
Juntamente com a beleza visual, a jogabilidade é um dos pontos mais fortes de Europa. Zee desliza, salta e flutua pelo cenário fora. Quando aprendemos a dominar o ritmo, a satisfação é ainda maior. Como já havia dito, o jogo não tem combate, mas depois da parte inicial surgem adversários que tentam atrapalhar-nos com projécteis atordoantes. O único momento do jogo em que podes "perder" é em secções de plataformas em que o dispositivo de Zee é desactivado e cais em poços fatais, embora o jogo te coloque imediatamente de volta no início dessa secção de plataformas.
Claramente, Europa não foi desenhado para ser um jogo desafiante. Todos os puzzles que encontrei são de resolução simples. Confesso que aqui o jogo podia voar mais alto. Por vezes, é simplista de mais e acho que havia a oportunidade para criar puzzles e oportunidades de exploração de maior interesse sem afectar o efeito relaxante que o jogo tem.
Prós
Um jogo com cenários lindíssimos
Narrativa envolve que funciona como folhear um livro
Banda sonora relaxante que intensifica a beleza dos cenários
Preço Justo
Contras
Dura apenas 2h30m
Os puzzles são demasiado simples
Não há New Game Plus
Veredicto
Em conclusão, Europa de Helder Pinto é uma experiência relaxante e visualmente apelativa, acompanhada por uma jogabilidade que deixa o jogador a sentir-se com o espírito mais elevado depois de jogar. Embora a sua simplicidade em termos de desafios e duração possa desapontar alguns jogadores em busca de um desafio mais intenso, a beleza do mundo criado e a profundidade emocional da narrativa equilibram os pontos negativos na balança. O jogo convida a uma reflexão sobre a relação que o ser humano tem com a natureza e os recursos naturais. Com o carimbo de um produtor português, é também um testemunho do potencial dos criadores portugueses, trabalhem em Portugal ou no estrangeiro.
Jorge Loureiro
O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.
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