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Split Fiction (análise) | Ficção + Fantasia = Sucesso

Split Fiction análise
Crédito da imagem: Hazelight / EA

Se há um género de experiências que cada vez mais estão a desaparecer da mente de muitos estúdios, é a de jogos cooperativos locais, permitindo que jogadores degustem de aventuras no conforto do seu sofá/secretária com um amigo ou parceiro de eleição. Felizmente, o Hazelight Studios continua a remar contra a maré. Após o primeiro mergulho através de A Way Out em 2018, este estúdio desbloqueou a verdadeira receita de sucesso em 2021 com o fenomenal It Takes Two de 2021 que recebeu, além de outros prémios, o cobiçado título de GOTY!

Não querendo afastar-se do que tem sido uma receita para o sucesso, desta vez temos nas nossas mãos Split Fiction, um título que tem como intenção oferecer mais uma dose do que os jogadores amam – uma aventura co-op para duas pessoas, repleto de mecânicas diferentes que fascinam e mantém os jogadores cativados do início ao fim. Mas será que os criadores se deixaram dormir na sombra do sucesso do título anterior, ou produziram mais uma pérola para acrescentar a um histórico que, para já, tem sido de sucesso?


Sobre Split-Fiction

  • Data de lançamento: 6 de Março de 2025

  • Plataformas: PC, PS5 e Xbox Series X | S

  • Editora: EA Games

  • Plataforma de teste: PS5

  • Género: Ação / Aventura & Cooperativo

  • Preço: 49,99€


Opostos em união

Em Split Fiction, temos perante nós uma dupla jovem de protagonistas entre a qual podemos escolher no início do jogo e entre cada sessão. De um lado temos Zoe, amante de tudo o que envolve fantasia e aventuras mais tradicionais, enquanto que do outro temos Mio que prefere ficção científica e experiências mais repletas de ação. Opostos perfeitos que apenas têm em comum o seu amor pela escrita, apesar de ainda não conseguirem alcançar o objetivo de ser publicadas.

Com uma promessa de vender uma das suas ideias ao público por parte de uma misteriosa empresa - Raden Publishing, ambas as personagens são aliciadas a participar num projeto inovador sobre o qual não sabem grandes detalhes, mas que na realidade tem o plano roubar, literalmente, as ideias do cérebro das pessoas. Com suspeitas por parte da Zoe mesmo a tempo de iniciar o processo,acaba por invadir o espaço onde a Mio já estava introduzida e é aqui que ambas vêm os seus enredos a ser misturados. Para conseguirem escapar, interromper este processo e proteger as suas mentes, vão ter que trabalhar em conjunto, experienciando, de forma literal, os mundos opostos que cada uma idealizou para impedir que o processo conclua.

Preparem-se para uma aventura que nos levará pelos maravilhosos mundos de ficção científica e pura fantasia, desvendando, ao fim de cada nível diferente, as reais intenções que o dono desta misteriosa empresa, Rader, tem para a nossa dupla de protagonistas, enquanto resolvemos, também, as diferenças fundamentais que existem entre Mio e Zoe que causarão bastantes atritos ao longo da história.

O conceito desta história pode parecer simples, mas a forma de Split Fiction abordar um assunto bem real, fazendo alusão à falta de ideias nas grandes indústrias e à necessidade de ter que roubar ideias ou deixar que a Inteligência Artificial crie tudo por si só, ao inspirar-se em conteúdos reais, todo o conteúdo que o seu dono quiser é magnifica.

Isto permite que, ao dar o twist fantástico que é levar as personagens a ultrapassar literalmente as histórias que têm idealizadas nas suas mentes, possamos visitar vários mundos cheios de vida e personalidade. Num enredo que inclui fortes momentos de crescimento pessoal por parte de ambas as protagonistas, misturando momentos hilariantes, de alta intensidade e sentimentais, esta é uma embalagem que claramente tira muitos apontamentos da última tirada do estúdio, mas que nunca comete o erro de ser uma cópia do mesmo. É uma história excelente, repleta de referências à Cultura Pop e nunca se esquecendo de fazer menções aos mundos criados previamente em It Takes Two e A Way Out.

Aventura a dois

Este título oferece uma campanha cooperativa para duas pessoas de forma local ou online. Para facilitar a tarefa de encontrar um Player 2, Split Fiction coloca ao nosso dispor o habitual Friends Pass que, tal como aconteceu com o It Takes Two, está disponível em todas as plataformas onde o jogo saiu (PC, Xbox Series X|S e PS5) de forma completamente gratuita, não obrigando a comprar duas cópias de forma desnecessária, numa iniciativa que continua a ser de louvar por parte do estúdio e também da EA.

Preenchendo os sapatos de Zoe e Mio, vamos ter que deixar as nossas adversidades de lado e depender da nossa capacidade de cooperação, juntando os poderes que vão sendo adquiridos ao longo de cada um dos diferentes mundos, realizado nas mentes das nossas personagens. Para completar cada um destes níveis, vai ser essencial ultrapassar desafios de plataformas, resolver puzzles que vão meter ambas as cabeças a pensar numa solução e atravessar diversas zonas com um ritmo frenético, onde só podem contar um com o outro para abrir caminho. Cada nível tem um conjunto variado de mecânicas e, ao longo dos mesmos, vamos sendo introduzidos a modificações de certas habilidades, como, por exemplo, o mundo em que temos connosco um dragão que vai crescendo e a cada fase do seu crescimento aprende novos truques.

Split-Fiction CampanhaImagem capturada por Geekinout.pt

Ao longo da história, iremos também encontrar uma boa quantidade de bosses que, apesar de envolverem várias mecânicas diferentes de lutar, têm no seu centro obstáculos que envolvem sempre a colaboração de ambas as partes. Como, por exemplo, um dos primeiros inimigos principais que encontramos em Split Fiction, que nos atira à cara piadas horríveis e descaradas sobre martelos. Durante o combate, ao haver uma abertura por parte do adversário, Zoe pode usar a sua espada ninja, a sua arma de eleição neste universo, para deixar o martelo que este inimigo usa à mercê de Mio que, através do seu chicote magnético, pega neste mesmo martelo e o usa para dar pancadas que desfazem o HP do temível Mr. Hammer.

Apesar do progresso a dois ser desafiante, Split Fiction manteve o sistema bastante generoso de voltar à ação. Se um dos jogadores caiu num dos diversos desafios de plataformas ou perdeu a vida em segmentos de alta velocidade, voltará na maioria das vezes ao ativo muito perto do seu parceiro, permitindo que voltem juntos à carga. Contudo, há as exceções de, quando ambos os jogadores perdem a vida num espaço muito curto de tempo, voltam a ser teletransportados um pouco atrás no percurso e, em cenários de luta, quando uma das protagonistas é eliminada, tem um curto período de respawn que pode ser acelerado ao clicar repetidamente no botão que aparece no ecrã. Não havendo um sistema de vidas ou algo que se assemelhe, este título não procura inflacionar a dificuldade nem criar bloqueios desnecessários à progressão no jogo, tornando-o mais acessível até a jogadores mais casuais.

Sendo a opção de jogar através cooperação local algo que está, infelizmente, cada vez menos presente no universo dos videojogos, é com muito bons olhos que vejo este estúdio a trazer, mais uma vez, um título de elevadíssima qualidade, para se jogar presencialmente, ou online, com um amigo/a ou parceiro/a, numa experiência que realmente leva os dois jogadores a estar em sintonia e beneficia imenso do seu foco em pura diversão para que qualquer tipo de jogador se perca completamente nesta aventura.

Split-Fiction coopImagem capturada por Geekinout.pt

Side Stories

Além da campanha carregada de diversidade de mecânicas e desafios, Split Fiction oferece também o que apelida de Side Stories – ideias que não foram completamente realizadas por cada uma das personagens na nossa dupla de protagonistas, mas que o sistema materializa na forma de portais em que podemos entrar. Este conteúdo opcional oferece-nos segmentos que duram alguns minutos e envolvem, por exemplo:

  • Uma aventura por uma quinta mágica, na qual controlamos um de dois porcos, sendo que com um deles podemos voar pequenas distâncias através dos nossos “gases” arco-íris e com o outro parte do nosso corpo é uma mola que sobe pequenas alturas. Entrega maçãs para abrir portões que bloqueiam o progresso, até chegar a um fim que te deixará boquiaberto;

  • Atravessa longos corredores, numa missão contra o tempo em que terão de se proteger das ondas emitidas por explosões solares de uma estrela que está prestes a rebentar. Usa tudo o que encontrares como cobertura, acompanhando o ritmo destas detonações até chegar à consola que permitirá evitar esta catástrofe;

  • Participa na construção de uma história infantil enquanto está ativamente a ser escrita num caderno, num enredo que vai sofrendo algumas alterações de percurso enquanto estamos a meio dele. Salva o principe do temível demónio… ou será um caranguejo? Bolas, não me consigo decidir!

Estas histórias estão espalhadas pelos diversos níveis da campanha principal e costumam estar bem à vista dos jogadores, apesar de haver algumas que estão um pouco mais escondidas, por isso fiquem atentos. Servindo como quebras do tipo de história em que estamos nos diferentes níveis, já que quando estamos nos mundos de Zoe a Side Story é relacionado com a Mio e vice-versa, estes desvios proporcionam um bom balanço entre ambos os géneros de fantasia e ficção cientifica. Apesar de ser conteúdo opcional, estas escapadas de duração mais curta escondem pequenos grandes tesouros, com imensa variedade de atividades e algumas trocas de diálogo que demonstram o avanço da relação entre as protagonistas ao longo do jogo.

Ao contrário de conteúdo secundário de outros jogos em que, a partir de certo ponto virava os olhos e fingia que não existiam, em Split Fiction tanto eu como a minha parceira ficávamos genuinamente entusiasmados assim que avistávamos um dos portais deste género ou uma das nossas personagens mencionava que havia um por perto. Mal isto acontecia, disparávamos em direção deste tipo de atividades curiosos do que íamos ter pela frente e muito raramente saímos desapontados com a qualidade do que estava à nossa espera. Acho que isto explica por si só que vale toda a pena fazer estes pequenos desvios e é mais um ponto de atração do titulo.

Split-Fiction Moonfire litImagem capturada por Geekinout.pt

Visuais e qualidade técnica

Para explorar os diversos mundos oferecidos por Split Fiction usei o modelo base da Playstation 5 que só disponibilizou um único perfil gráfico, oferecendo 60 FPS sem qualquer problema em aguentar essa taxa mesmo em momentos mais intensos, cheios de explosões e fogo inimigo. Este é um título que dá o devido protagonismo a ambientes cheios de cor e com um nível de atenção e riqueza nos detalhes ao ambiente que rodeia, oferecendo vistas lindíssimas, variadas e fáceis de ler, mesmo no meio do caos em que por vezes me encontrava. Desde metrópoles futuristas a florestas encantadas, não esquecendo tudo o resto que vem depois, este é um jogo que transpira qualidade e polimento a nível visual, demonstrando que nem sempre os estúdios têm de se focar em gráficos hiper-realistas com atenção a detalhes, por vezes, excessivos para entregar uma experiência visualmente deslumbrante.

Em termos técnicos, é de louvar os esforços feitos pelos membros do Hazelight Studios que, mais uma vez, entregam uma aventura praticamente perfeita, algo que considero fantástico tendo em conta a quantidade de mecânicas, ferramentas e outros equipamentos que temos ao nosso dispor ao longo de todo o jogo. Ainda assim, tenho que apontar como ponto negativo algumas ocasiões em que, ao longo da história, era introduzido um mecanismo novo a uma das protagonistas, mas o tutorial não era disponibilizado atempadamente, causando alguma confusão e uma ou outra morte desnecessária.

Em suma, tanto a nível visual como a nível técnico, o jogo é quase perfeito, resultando num produto que está bem polido e onde se nota que, mais uma vez, o estúdio tem gosto naquilo que faz, oferecendo mais uma experiência completa, otimizada e sem fita-cola a segurar as pontas. Isto é algo que não deveria ser um ponto positivo, mas, na indústria dos videojogos moderna em que o que interessa é cumprir prazos, vender e depois arranja-se a coisa, é algo que devo dar o devido valor, com o fator acrescido do esforço que Split Fiction deve ter envolvido para ser lançado neste estado quase pristino.

Split-Fiction FlyImagem capturada por Geekinout.pt

PRÓS

  • Experiência cooperativa local e online perfeita para todo o tipo de fãs, desde o gamer ávido ao mais casual

  • Jogabilidade cheia de variedade que nunca deixa algo tornar-se aborrecido antes de nos oferecer brinquedos novos para testar

  • Visuais lindíssimos, otimização de alto nível e bugs quase inexistentes, uma experiência polida

  • Conteúdo secundário que tresanda a qualidade e contém várias pérolas que valem a pena visitar

CONTRAS

  • Alguns bugs relacionados com tutoriais que, por vezes, não apareciam de forma atempada

Esta medalha é para o melhor entre os melhores. São marcos, que alteram o paradigma de alguma forma e influenciam o futuro com o seu impacto e qualidade. Um jogo, filme ou produto com esta medalha será recordado no futuro pelas melhores razões.

Veredicto

Split Fiction reafirma que este estúdio não teve apenas sorte com It Takes Two, voltando a oferecer uma aventura cooperativa que apesar de partilhar parte do DNA do seu antecessor, é uma experiência completamente nova e que demonstra o que o Hazelight Studios aprendeu com o GOTY de 2021. É um título que recebe a minha recomendação sem qualquer tipo de reservas, perfeito para jogar com o seu parceiro/a e/ou amigos/as, numa aventura que apesar de oferecer desafios, nunca perde vista da sua acessibilidade a qualquer tipo de fã de jogos.

Foto de Pedro Gomes - Autor na Geekinout
Autor

Pedro Gomes

Um verdadeiro amante de videojogos desde muito cedo e sendo o seu hobby preferido sempre, o Pedro tenta agora, como um adulto irresponsável, arranjar tempo para uma jogatana quando os seus dois demónios peludos favoritos o permitem.