Undisputed (análise) | Regresso a um género abandonado

Punch Out, Ready to Rumble, Fight Night … apenas alguns dos títulos que deixaram o seu legado, fazendo parte das bibliotecas de consolas que fizeram muitas gerações de gamers felizes, mas já vão alguns anos desde que os jogos deste desporto foram convertidos na sua grande parte em títulos VR para existir uma maior imersão no ringue e nas lutas em si.

Contudo, após uns largos anos de um deserto que parecia não ter fim, existe finalmente uma luz ao fundo do túnel de seu nome Undisputed. Produzido pelo estúdio Steel City Interactive, este regresso ao ringue promete não só reanimar o género, mas sim revolucionar a experiência para todos os fãs. Será que o conseguiram?

Sobre Undisputed

• Data de lançamento: 8 de Outubro de 2024

• Plataformas: PC, Xbox Series e PS5

• Editora: Deep Silver

• Plataforma testada: PS5

• Género: Jogo de Luta / Boxe

• Preço: 49,99€

Tutorial para entrar no ringue

Logo que entramos no jogo, Undisputed oferece-nos um tutorial que nos ensina o básico de como dominar o ringue, incluindo os vários tipos de golpes que podemos desferir no nosso adversário como jabs e hooks, posturas defensivas e algumas das mecânicas do jogo e do desporto em si, para jogadores que desconheçam os fundamentais da modalidade. Isto é um bom guia para começar, mas sinto que alguns componentes essenciais do combate não foram incluídos e apenas iremos aprende-los no ringue contra adversários a contar, o que é algo que poderia ser melhorado no meu ponto de vista.

Após o tutorial terminar, temos acesso aos diversos modos de jogo, como o modo carreira, as lutas rápidas, os prize fights e também o modo PvP online que não irei abordar nesta análise, sendo que me dediquei exclusivamente às modalidades PvE.

Modo Carreira – Trilha o teu caminho

O derradeiro objetivo do jogo para quem procurar um desafio a solo, é o Modo Carreira, que nos permite criar o nosso próprio lutador e levá-lo a obter o cobiçado título de Undisputed. Num criador de personagens robusto, podemos escolher a sua classe, o seu estilo de luta e vários outros elementos que dão uma boa variedade de opções ao jogador, deixandoo tomar o rumo de um peso pluma com imensa resistência que gosta de desferir jabs e hooks com frequência, mas que causam menos dano ou, se preferir, criar um peso pesado que entrega golpes que deixam o oponente desorientado com facilidade.

Após criar o nosso lutador, somos apresentados ao menu onde podemos progredir no modo, que nos deixa contratar staff para a nossa equipa, gerir a nossa personagem e tudo o resto, que nos vai ser apresentado de forma oportuna. Aqui podemos avançar as semanas e determinar se queremos trabalhar na nossa forma física ou no nosso peso para que estejamos aptos para o combate, algo que se torna numa tarefa extremamente monótona, já que o progresso é lento e se treinarmos a nossa forma, o nosso peso aumenta e vice-versa, o que leva a que passemos várias semanas do jogo a gerir isto para que não entremos na luta abaixo de forma.

Aptos ou não, após algumas semanas de treino, temos o desafio de 3 lutadores ou podemos ser nós a desafiar um oponente para um combate que nos oferecerá dinheiro, fama e progressão nas ligas. Estas lutas têm regras diferentes, como um limite de KOs, diferente número de rondas que oferecem alguma variedade e ocorrem em alguns ringues diferentes. No início da carreira, vamos ter mais desafios que ocorrem no ginásio ou em outros espaços pequenos, mas conforme avançamos na tabela, teremos mais combates em locais com maior destaque e narrados por comentadores.

O Fernando Mendes virou pugilista? (Imagem capturada por Geekinout.pt)

Conforme progredimos, vamos ter que estar atentos a detalhes como a renovação de contrato do nosso staff, lesões que podem durar meses até recuperar e outros eventos como, por exemplo, as desejadas lutas para o título. Para melhorar o nosso lutador ao longo da sua carreira, temos ao nosso dispor um ginásio que será o nosso destino antes de cada combate e é aqui que, durante as semanas até ao combate, podemos escolher entre algumas atividades. Podemos treinar um dos vários stats como velocidade do golpe, recuperação de stamina entre imensos outros, fazer uma atividade para aumentar a nossa fama ou simplesmente descansar para recuperar a nossa fatiga que acumula após cada treino.

Apesar de tudo isto, o Modo Carreira acaba por ser muito rotineiro e em certos pontos entediante, com uma sequência de tarefas monótona e na sua totalidade feito por texto, num menu que podia ser melhorado e até, em certos pontos, automatizado por parte do jogo, para colocar mais ênfase nas lutas em si que são o ponto mais alto. O sistema de gerir a forma e o peso é também extremamente enfurecedor, metendo-nos durante semanas a manter um equilíbrio que, na minha opinião, poderia ser incorporado nas sessões de ginásio.

Combate Rápido/Prize Fights – Prática faz a perfeição

No modo Combate Rápido temos o típico modo base de qualquer jogo deste estilo, onde podemos escolher entre um leque de lutadores interessante, distribuídos pelas várias categorias de peso. Incluindo nomes intemporais como Muhammad Ali e outros mais atuais como Tyson Fury, Undisputed traz-nos mais de 70 lutadores licenciados em lutas contra o CPU ou desafiando um Player 2, já que este título felizmente inclui a opção de PvP local.

No modo Prize Fights, podemos participar em lutas icónicas do mundo de boxe, colocando-nos o desafio de fazer o melhor combate possível com o objetivo de acumular pontos obtidos ao desferir e bloquear golpes com sucesso, ganhar rounds e outros objetivos que, com tudo acumulado, entram numa leaderboard da comunidade do jogo. Isto é um bom desafio para quem dominar o jogo e quiser comprovar que domina o ringue como ninguém, mas os combates são exclusivamente contra o CPU.

O Fernando Mendes vs Ali (Imagem capturada por Geekinout.pt)

O combate

As lutas envolvem vários sistemas que vão sendo memorizados de forma natural, dando bastante destaque à stamina dos lutadores e também à durabilidade dos mesmos. Para derrubar com sucesso o adversário, temos que desferir golpes do torso ou na cabeça de forma até que ele fique atordoado, dando um boost que nos permite atacar sem que a barra de stamina seja afetada durante uns segundos, facilitando o knock-out.

Além da durabilidade, cada lutador tem também a sua barra de inchaço na face e de laceração, que ao atingir o nível máximo, podem levar ao fim precoce de um combate. Estas duas últimas barras são estranhas de interpretar, não por serem difíceis de analisar, mas sim porque em certos combates eu tentava só aplicar socos num dos lados do oponente para acumular dano, sem que o progresso fosse aparente, enquanto que noutros parecia que os meus punhos se assemelhavam a tijolos que, em poucos golpes, causavam sangramento e inchaço da cara do oponente.

Imagem capturada por Geekinout.pt

Algo que tive também bastante dificuldade em compreender era a barra de energia do CPU, que parecia interminável mesmo em combates com bastantes rondas, enquanto que a minha não tinha esse mesmo benefício, ainda que tentasse ser mais reservado. Também outro ponto que me fez confusão era a análise dos pontos a cada ronda, que por vezes me parecia aleatória e sem grande critério.

Undisputed inclui também a opção de comentadores de combate, que vão oferecendo o seu feedback ao longo do combate, ajudando a decifrar para que lado estavam a pender os pontos…, mas não de forma muito consistente. Apontando que certa ronda foi uma avalanche de um dos lados, quando na verdade tivemos uma ronda equilibrada, aclamando que um combate estava cheio de ação enquanto os lutadores pouco interagiram um com o outro, e outras inconsistências do género.

Apresentação

Em termos de apresentação, temos um pouco de tudo. Os lutadores têm bons detalhes visuais e nota-se bem o impacto físico dos golpes infligidos, incluindo também cenas de entrada no ringue bem construídas. No entanto, as animações faciais são insuficientes, muitas vezes os braços dos lutadores fazem movimentos pouco naturais, como quando rodam 360 graus e, pelos vistos, no mundo de Undisputed, só existe um árbitro para todos os combates, não havendo variedade nesse aspeto – mas há que dar mérito, estar em todo lado ao mesmo tempo não é para todos.

Imagem capturada por Geekinout.pt

No modelo base da Playstation 5, este jogo roda bem na sua generalidade, ainda que não considere que esta seja uma experiência muito pesada graficamente. Ainda assim, reparei em alguns abrandamentos a meio dos combates, sem que houvesse grande justificação para tal, mas, tirando isso, o título parecia cumprir bem a sua meta dos 60FPS, não dando a opção de escolher entre diferentes modos gráficos. Undisputed inclui ainda várias opções de customização de controlos, áudio, câmara e outros detalhes que podemos alterar conforme for mais conveniente a cada um, o que é bastante positivo.

Prós:

• Bons detalhes visuais numa lista extensa de lutadores;

• Boa variedade de modos de jogo, dando a opção de lutar com alguém de forma local;

• Bom feedback de impacto dos golpes no adversário.

Contras:

• Jogo visualmente desinteressante, carecendo de animações simples que acrescentariam à experiência;

• Inconsistência de alguns sistemas em combate, causando alguma frustração;

• Modo carreira com potencial, mas que de momento parece inacabado;