Until Dawn (crítica) – o filme de terror que se esqueceu que era baseado num jogo
- por Jorge Loureiro
- 23 de abril, 2025
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Confesso que nunca percebi porque é que se insiste em adaptar jogos para cinema, apenas para depois ignorar por completo aquilo que os torna especiais. É como pegar num livro e filmar só o índice, ignorando o resto das páginas.
Foi exatamente isso que senti ao ver o filme de Until Dawn, baseado no aclamado jogo de terror da Supermassive Games, lançado originalmente para a PS4 em 2015 — e que, no ano passado, recebeu um remake para a PS5.
O filme chega com a promessa de homenagear uma obra marcante no género dos jogos de terror, mas acaba por fazer exatamente o oposto: recusa-se a abraçar o ADN do original, aproveitando apenas pequenos elementos da obra e misturando-os num conceito completamente diferente.
Sobre o filme de Until Dawn
Estreia em Portugal: 24 de Abril
Género: Terror
Duração: 1h43m
Realizador: David F. Sandberg
Um novo Until Dawn, sem montanha nevada, mas com ampulheta assassina
A começar pelo elenco e cenário. A clássica cabana de esqui foi substituída por uma casa misteriosa no meio de uma floresta. E as personagens que conhecíamos? Esquece. A história segue um grupo de cinco amigos à procura de pistas sobre o desaparecimento de Melanie, irmã de Clover.
Como manda a tradição no terror, rapidamente percebem que estão metidos num sarilho. A casa onde se encontram esconde uma ampulheta demoníaca, que os ressuscita e faz reviver a mesma noite vezes sem conta. A única forma de escapar? Ou sobrevivem até que o último grão de areia caia… ou perdem a sanidade e juntam-se às criaturas que habitam o local.
Apesar da história ser completamente nova, o filme ainda guarda alguns acenos ao jogo original. O Dr. Hill está de volta — interpretado mais uma vez por Peter Stormare — e também há wendigos. O assassino mascarado faz várias aparições, mas a identidade por trás da máscara não é a mesma.
Terror com toques de slasher e um final que deixa pontas soltas
Apesar de todas estas diferenças — ou talvez por causa delas — o filme acaba por funcionar. Para quem conhece bem o jogo, o distanciamento do material original torna a experiência imprevisível e, por isso mesmo, interessante.
O tom é uma mistura entre terror psicológico e slasher, com mortes tão exageradas que arrancaram gargalhadas do público no cinema. Pode soar estranho, mas funcionou: o filme tem ritmo, momentos de tensão e um ambiente sinistro que cumpre o seu papel.
O problema está no final. Muitas perguntas ficam no ar, vários elementos parecem atirados ao acaso, e o desfecho dá a entender que esta história existe apenas dentro do universo de Until Dawn, sem intenção de substituir o jogo — o que até é uma boa decisão. Mas com tantos caminhos abertos e poucas respostas, fica a sensação de que faltou coragem para abraçar por completo uma nova narrativa ou, pelo contrário, respeitar a história original.

Veredicto
Se fores fã do jogo, vais sentir-te dividido. Until Dawn – O Filme tem momentos interessantes, boas ideias e até funciona como filme de terror puro, mas enquanto adaptação... fica muito aquém do potencial. Ainda assim, saí do cinema entretido. Não desiludido, mas também não completamente satisfeito.
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Jorge Loureiro
O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.

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