A tua plataforma para te manteres a par do que se passa no mundo do gaming, mas não só. Não percas as nossas notícias, reviews, artigos de opinião, e também dicas de fitness para te manteres forte e saudável. Vive melhor, joga melhor.

Ainda vale a pena comprar jogos no lançamento?

Persona 3 Reload Episode Aigis

Comprar jogos no lançamento é uma das melhores formas de apoiar a indústria dos videojogos. É expoente máximo de votar com a carteira, dando um sinal aos produtores e editoras de que gostam daquele jogo e saga em particular.

Todavia, com o preço dos jogos cada vez mais elevado e com uso frequente de fórmulas pré-estabelecidas que não trazem inovação, tornando os jogos cada vez mais parecidos uns com os outros, dou por mim a perguntar: será que ainda vale a pena comprar jogos no lançamento?

Antes de mais, quero esclarecer que lanço a questão no contexto dos jogos AAA. O mercado dos jogos indie é um caso à parte e que, neste momento, está a trazer mais inovação e frescura que os jogos com grandes orçamentos.

A questão tem vindo a tornar-se mais pertinente nos últimos anos e voltou à tona com o recente caso de Persona 3 Reload. Foi lançado no início de Fevereiro e recebeu críticas altamente favoráveis (tem uma média de 87 no Metacritic) O jogo em si é um remake de Persona 3, lançado originalmente para a PS2 em 2006. O preço do remake é de €69,99. Até aqui tudo bem.

O problema começou no início deste mês, quando a Atlus anunciou um Expansion Pass de 34,99€. O Pass é composto por faixas musicais de Persona 5 e Persona 4 Golden, novos fatos para as personagens, e um prolongamento da história chamado "Episode Aigis - The Answer". Os fãs que compraram o jogo no lançamento não estão a gostar, porque sentem-se enganados, como se tivessem comprado uma versão incompleta.

Para que conste, este epílogo já estava presente na versão original. Como consequência, os fãs estão a olhar para o Expansion Pass, em particular o Episode Aigis, como conteúdo cortado de um jogo que está ser vendido a preço completo. Os Season Pass e derivados não são novidade no contexto dos videojogos, no entanto, perante um remake, é realmente questionável que se venda conteúdo em separado.

Esta decisão de negócio adoptado pela Atlus não ajuda os jogos AAA, que estão a passar por uma crise. Para piorar o cenário, a Atlus disse que não tem intenções de vender os conteúdos do Expansion Pass em separado. Ou seja, se estiveres interessado em apenas um dos conteúdos do Expansion Pass, tens que pagar os €34,99 de qualquer forma.

Historicamente, os jogos da saga Persona sempre tiveram versões com conteúdo extra passado um ou dois anos após o lançamento da versão original. Assim foi com Persona 4, em que depois surgiu Persona 4 Golden. Também foi assim com Persona 5, em que depois veio Persona 5 Golden. Porém, Persona 3 Reload é um caso à parte, novamente porque se trata de um remake - de base já deveria ser a melhor versão possível. O facto de existir um Expansion Pass é uma bofetada nos fãs e uma cuspidela na sua lealdade.

Fora aqueles que compraram o jogo por €69,99, há fãs que ainda se sentem pior por terem comprado a Edição Limitada ou a Aigis Collector's Edition (ainda mais cara). Do outro lado do espectro, estão os subscritores do Xbox Game Pass, que para além de terem acesso ao jogo, vão ter acesso aos conteúdos do Expansion Pass sem custos adicionais. Conclusão: quem realmente apoiou o jogo no lançamento é quem sai menos beneficiado nesta situação.

Quem realmente apoiou o jogo no lançamento é quem sai menos beneficiado nesta situação.

Decisões de negócios como esta fragilizam a confiança dos consumidores e não contribuem para o crescimento saudável da indústria. Pessoalmente, não adquiri Persona 3 Reload por um triz, porque ainda estou a acabar Persona 5 Golden na Switch. Se o tivesse feito, sentiria-me tão enganado como alguns fãs. Se as editoras continuaram a traírem a confiança dos fãs desta forma, é normal que a reação dos consumidores seja comprar menos jogos no lançamento e esperar pela versão completa, uma descida de preço, ou então que fique disponível em algum serviço.

A consequência é óbvia: menos receitas para as editoras, menos lucro, menos margem de investimento, menos qualidade, e ultimamente recessão.

Autor

Jorge Loureiro
Fundador da GeekinOut

O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.