Avowed (análise) | Um RPG com um mundo envolvente, mas com combate desajeitado
- por Jorge Loureiro
- 13 de fevereiro, 2025
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Em 2018, como parte da sua estratégia para fortalecer a marca Xbox com novos jogos, a Microsoft adquiriu a Obsidian Entertainment, um nome que carrega consigo enormes expectativas para os jogadores veteranos. Fundado em 2003, o estúdio destacou-se cedo no género dos RPGs, assumindo o legado da Bioware com Star Wars: Knights of the Old Republic II e, mais tarde, da Bethesda, com o icónico Fallout: New Vegas. Este último, apesar dos reconhecidos problemas técnicos, continua até hoje a ser uma referência na série.
O investimento da Microsoft começou a dar frutos rapidamente. Em 2019, a Obsidian lançou The Outer Worlds, um RPG espacial que conquistou os fãs do género e arrecadou elogios da crítica especializada. Em 2022, o estúdio voltou a surpreender com Grounded, uma experiência completamente distinta dos seus trabalhos anteriores, focada em sobrevivência e jogabilidade cooperativa. Agora, em 2025, a Obsidian está pronta para mais um marco no seu portfólio: Avowed, um RPG de fantasia em primeira pessoa.
Bem-vindos às Living Lands de Eora
O mundo de Avowed não é propriamente novo. O estúdio aproveitou o universo de Eora, que havia criado anteriormente para Pillars of Eternity, um sucessor espiritual dos antigos Baldur's Gate. Avowed traz uma nova história inserida neste mundo, com um foco particular na região de Living Lands (Terras Vivas). Esta ilha peculiar, onde a natureza parece ter uma vontade própria, está repleta de mistérios e segredos para explorar—o cenário ideal para um RPG deste tipo.
Sobre Avowed
Data de lançamento: 13 de fevereiro (acesso antecipado), 18 de fevereiro de 2025
Preço: 69,99€ (disponível também no Game Pass)
Plataformas: PC e Xbox Series X | S
Género: RPG / Ação
Plataforma de teste: PC
Editora: Xbox
Embora o jogo introduza uma avalanche de novos termos ligados ao seu universo nas primeiras horas, não precisas de jogar Pillars of Eternity para compreender e desfrutar de Avowed. A narrativa funciona como uma experiência independente, acessível tanto para veteranos que jogaram Pillars of Eternity como para novatos (o meu caso). A experiência da Obsidian neste género nota-se desde o início. Avowed é um RPG que sabe cativar, rapidamente implementando aquele bichinho que nos faz voltar uma e outra vez para nos deleitarmos com o seu mundo.
As Living Lands, fazendo justiça ao seu nome, são um local onde sentimos a presença da natureza. Ao desbravarmos o território, encontramos florestas verdejantes, praias de água transparente, árvores gigantes cheias de raízes em ziguezague, pântanos sombrios, desertos áridos, e montanhas rochosas. Esta diversidade não é apenas visual—cada bioma está repleto de vida selvagem única, desafios específicos e segredos à espera de serem desvendados, o que torna a exploração fascinante e sempre recompensadora, não só em termos de loot, mas também no conhecimento que vamos recebendo deste mundo.
Crédito da imagem (Xbox)
Crédito da imagem (Xbox)
Em grande parte, Avowed funciona como um jogo em mundo aberto. As suas áreas abertas são vastas e conseguimos explorar enormes extensões de terreno de forma contínua, sem interrupções. No entanto, o jogo é, na verdade, composto por diferentes grandes áreas interligadas, que requerem pequenos loadings durante a transição entre elas. Esses loadings também aparecem ao entrar em grutas, masmorras ou mesmo nas cidades espalhadas por estas áreas expansivas. Apesar disso, a transição demora segundos e não quebra demasiado a imersão. As áreas em si são ricas em detalhes, com vida e múltiplos NPCs, e cuidadosamente construídas.
A Main Quest - A natureza está doente
Não consigo deixar de sentir que existe um paralelismo entre a história de Avowed e o que estamos a viver no mundo real com as alterações climáticas e os desastres naturais que delas decorrem. Em Avowed, a nossa personagem é enviada pelos Aedyr para as Living Lands com a missão de investigar uma praga que está a corromper a natureza, tornando-a doente e agressiva. As Living Lands sempre tiveram a reputação de serem um território inóspito e perigoso, mas é evidente que algo muito mais profundo e errado está a acontecer. Desde os momentos iniciais da aventura, a nossa personagem estabelece uma ligação misteriosa com uma identidade antiga das Living Lands, que nos fala diretamente na nossa mente, tentando guiar-nos nas nossas escolhas. Apesar disto, ultimamente a liberdade de decisão é tua.
As tuas escolhas em Avowed têm impacto no rumo da narrativa. Podes seguir o caminho do bonzinho, ajudando tudo e todos, ou então optar por uma abordagem mais agressiva, atacando indiscriminadamente e criando inimigos por onde passas. Estas decisões aparecem sobretudo nos diálogos, mas nem todas estão acessíveis. Algumas opções estão bloqueadas por requisitos de progressão associados à build da personagem, como um certo nível de força ou intelecto. Não é algo novo nos RPGs, mas senti-me um pouco restringido, especialmente porque algumas dessas escolhas exigiam um número de pontos investidos que, tendo em conta o meu progresso na altura, me pareceu exagerado
A quest principal guia-nos pelas diferentes áreas de forma eficiente, mas para aqueles que gostam de explorar a fundo e completar tudo, Avowed oferece uma grande diversidade de quests secundárias. Algumas são mais simples, como as bounties que encontramos nas cidades, onde recebemos tarefas do género 'vai até ali e elimina essa pessoa ou criatura'. No entanto, existem outras quests muito mais interessantes, que enriquecem a narrativa ao revelar histórias, mistérios e curiosidades das Living Lands.
O mais interessante é que nem sempre estas side quests nos são entregues diretamente – explorar o mapa compensa bastante, seja ao descobrir novas missões, segredos ou elementos adicionais da lore. O mapa, aliás, surge inicialmente coberto e vai sendo revelado à medida que o exploramos, preservando o mistério e incentivando a curiosidade. Gosto desta abordagem e acho que funciona. O sistema de parkour do jogo também ajuda à exploração. A nossa personagem consegue correr e saltar, agarrando-se às bordas de plataformas para depois subir. É um RPG com muito movimento e liberdade para trepar coisas.
Combate precisa de afinações
Se por um lado fiquei encantando com o mundo de Avowed e a quantidade de coisas que há para descobrir - um ingrediente que me parece essencial para um RPG deste tipo - o combate não me convenceu por completo. O melhor que posso dizer do combate é que funciona, mas não transmite aquela sensação satisfatória que desperta o nosso centro de dopamina. Há várias coisas a melhorar:
Animações dos adversários – As animações, sejam de humanos, animais ou criaturas estranhas, precisam de ser mais fluídas (um dos animais mais comuns são os ursos, que têm animações que parecem robôs)
Sistema de stamina – A barra de stamina esgota-se rapidamente com meia dúzia de ataques, deixando a personagem ofegante e vulnerável a ataques de adversários, o que se torna mais frustrante do que desafiante.
IA dos companheiros – A inteligência artificial dos companheiros é incrivelmente fraca, com comportamentos quase suicidas que prejudicam a experiência.
Inimigos que invocam minions infinitos – Certos adversários conseguem invocar aliados infinitamente, tornando os combates frustrantes e desequilibrados.
Encontros mal desenhados – Há batalhas com inimigos em excesso ou posicionados de forma desorganizada, que forçam o jogador a fugir ou esconder-se constantemente, mesmo quando o equipamento está no nível recomendado.
Ainda sobre a inteligência artificial dos companheiros, é possível comandá-los para executarem as suas habilidades e escolher o inimigo alvo, no entanto, a tendência é afastarem-se de nós, ao ponto que às vezes estão demasiado longe para ativerem essas mesmas habilidades.
Como pontos positivos, o combate e as árvores de habilidades oferecem grande liberdade na escolha do arsenal para combater. Podes misturar e combinar espadas, feitiços, armas de fogo e escudos para criar um estilo de jogo que se adapte às tuas preferências. Pessoalmente, desde cedo que escolhi usar uma varinha e um grimório (um livro com feitiços). A jogabilidade fez-me sentir como se tivesse num filme de Harry Potter, embora a nossa personagem fique extremamente vulnerável a todo o tipo de ataques. A única forma de os evitar é o sistema de esquiva, dependente da barra de stamina. Dito isto, existe a opção de trocar rapidamente para um segundo set de equipamentos, de forma a ter uma alternativa para diferentes situações.
O editor de personagens é bastante completo e com muitas opções (Imagem capturada por Geekinout.pt)
Outro ponto que merece elogios é a inclusão de uma alternativa à perspectiva na primeira pessoa. Ao visitar as opções, é possível escolher jogar com a câmera na terceira pessoa. Passei várias horas a jogar em ambas as perspetivas e, embora a primeira pessoa torne a experiência mais imersiva e próxima, senti que a terceira pessoa oferece vantagens em termos de jogabilidade, especialmente em encontros com múltiplos inimigos. A visão mais ampla facilita a perceção espacial e o controlo do que se passa à nossa volta. Além disso, para quem gosta de perder tempo a criar a personagem no editor – que é bastante completo e detalhado – jogar na terceira pessoa é a melhor forma de apreciar todo o trabalho dedicado ao aspeto visual da tua personagem.
Avowed na terceira pessoa (Imagem capturada por Geekinout.pt)
Um jogo visualmente bonito
A direção artística de Avowed é claramente um dos seus pontos fortes, com uma estética que encaixa perfeitamente no mundo de Eora. A Obsidian optou por uma paleta de cores vibrante e contrastante, complementada por um design ligeiramente cartoonesco que ajuda a dar identidade ao jogo. No entanto, tecnicamente, há espaço para melhorias. As expressões faciais das personagens, por exemplo, são algo rígidas e não conseguem transmitir o realismo que outros RPGs de ação já alcançaram. Mesmo jogando no PC, com ray tracing ativado e as definições gráficas no máximo, o resultado não foi tão impressionante como esperava. O jogo também sofre de ghosting, blur e artefactos visuais, o que no geral diminui a qualidade da experiência. Também dei uns toques na versão para Xbox Series X, e, embora o desempenho fosse sólido, a qualidade visual manteve-se dentro do mesmo patamar, juntamente com os mesmos problemas. O desempenho é sólido na maioria das vezes, mas há engasgos abruptos da framerate
Prós:
Mundo único e envolvente: O tema da natureza e a sua corrupção num RPG de fantasia é cativante e original.
Exploração: Um mundo detalhado, cheio de mistérios, biomas variados e conteúdo que recompensa a curiosidade do jogador.
Sistema de progressão robusto: As árvores de habilidades e o arsenal diversificado permitem criar estilos de combate personalizados.
Alternativa à primeira pessoa: A inclusão de uma perspetiva em terceira pessoa é uma mais valia
Longevidade: A main quest e a abundância de side quests oferecem muitas horas de diversão e exploração (20 a 40 horas)
Contras:
Combate: vários problemas que reduzem a satisfação
Problemas visuais: tecnicamente há coisas que o impedem de brilhar
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Veredicto
Avowed destaca-se como mais uma entrega de qualidade no portfólio da Obsidian, oferecendo um mundo rico e detalhado que incentiva a exploração e cativa com sua narrativa. As Living Lands trazem um cenário memorável, cheio de mistérios, biomas diversificados e um leque diversificado de personagens, sejam os nossos companheiros, sejam NPCs. Apesar dos pontos altos, como o sistema de progressão com muitas possibilidades e a opção de alternar entre perspetivas, o jogo tem alguns problemas e falhas no combate que o impedem de alcançar o seu pleno potencial. No entanto, para fãs de RPGs, é uma experiência que vale a pena explorar, especialmente se a Obsidian conseguir afinar os problemas técnicos em futuras atualizações.
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Jorge Loureiro
O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.
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Sobre
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