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Black Myth Wukong review | Jogo brutal atormentado por pequenos problemas

Análise a Black Myth Wukong
Black Myth Wukong (crédito da imagem: Geekinout / Game Science)

Terminei Black Myth Wukong há cerca de uma semana. Normalmente, não espero tanto tempo para me sentar e escrever uma review. Mas, neste caso, precisava de me distanciar do jogo para pensar claramente. Como todos os jogos difíceis, pode passar facilmente a cerca para território frustrante e foi o que aconteceu várias vezes. Ao longo dos anos, já terminei vários jogos da From Software, desde Dark Souls, passando por Bloodborne, até Elden Ring. A verdade é que sinto-me esgotado de jogos assim pela paciência que exigem. E paciência não é o meu forte. Gosto de jogar para me divertir e relaxar, e apesar de não baixar os braços perante um desafio, cada vez vejo menos propósito em estar horas fio a tentar derrotar um boss. Entendo que isto é altamente subjectivo e nem todos os que estão a ler pensam de igual de forma, mas esta é a minha experiência e forma de estar actual.

Black Myth Wukong não é propriamente um um soulslike no sentido rígido do género, mas francamente, a experiência pareceu muitas vezes similar. Não é tão punitivo porque quando morres, não perdes absolutamente nada a não ser o tempo. Manténs toda a experiência, todos os itens e nem sequer há desgaste de armas ou armaduras. A melhor forma de pensar em Black Myth Wukong é num híbrido entre um hack and slash e um Soulslike, com jogabilidade rápida e que recompensa reflexos aguçados, mas com uma filosofia de soulslike nos bosses: precisas de aprender ao milímetro os padrões dos seus ataques, experimentar diferentes estratégias, usar tudo aquilo que o jogo coloca ao teu dispor, e ter muita paciência para ir melhorando aos poucos. A aventura durou quase 50 horas no meu caso; explorei tudo o que encontrei.


Sobre Black Myth Wukong

  • Género: RPG de acção / aventura

  • Data de lançamento: 21 de Agosto de 2024

  • Produtora: Game Science

  • Preço: 59,99 euros (PC) | 69,99 euros (PS5)

  • Plataforma testada: PC


O jogo tem um sistema de progressão de níveis, em que vais escolhendo em que árvore de habilidades queres investir, checkpoints tipo bonfires onde podes recuperar a vida e poções de saúde, e personalização que te permite trocar o bastão, armadura, poções e até o frasco de saúde (existem vários frascos com diferentes efeitos e benefícios). A verdade é que inicialmente parece um jogo relativamente simples, mas vais descobrindo a complexidade das builds aos poucos. Dito isto, não esperes algo tão vasto como Elden Ring (e não, não estou a dizer que um é melhor do que o outro). Não deixa de ser surpreendente, contudo, que um estúdio com tão pouca experiência como a Game Science tenha conseguido fazer um jogo desta grandiosidade e qualidade. É certo que se inspira em múltiplos jogos existentes, mas ao mesmo tempo sinto que o jogo conseguiu dar um twist positivo e tornar a experiência diferente o suficiente para não parecer meramente um clone.

Black Myth Wukong tem história?

Sim, o jogo tem uma história e, contrariamente aos jogos da From Software, está muito mais presente. Há múltiplas cinemáticas, bonitos vídeos de animação no final de cada capítulo, personagens que falam e contam coisas... todos os elementos necessários para compor uma narrativa. O problema é que a exposição precisava de ser melhorada, isto claro da minha perspectiva. A Game Science assume que conheces a obra "Uma Jornada para o Oeste", na qual a história de Black Myth Wukong é baseada. A história do jogo é como se fosse uma continuação. Houve coisas que percebi e que são óbvias, mas no geral, fiquei muito confuso e sem perceber as particularidades e diálogos das muitas personagens que vão aparecendo. Claramente a história foi pensada para o mercado chinês (onde o jogo está a fazer um sucesso maior do que noutros territórios). Creio que se a Game Science soubesse que o jogo ia ter esta expressão no mercado Ocidental, modificaria algumas coisas para facilidade de compreensão.

Como funciona a jogabilidade?

Em termos práticos, não radicalmente diferente de outros RPG de acção. Tens um botão de ataque leve e outro botão de ataque pesado (mas que só pode ser activado se acumulares foco, e para isso precisas de acertar no adversário com o ataque leve). Existe a possibilidade de fazer combos, mas isto não é um Devil May Cry ou Bayonetta em que as possibilidades são mais do que muitas. O botão mais importante é o de esquiva. As esquivas perfeitas são incrivelmente recompensadoras e, dependendo da tua build, podes activar vários bónus temporários depois de conseguires fazer uma. Dito isto, precisas de ter reflexos aguçados. O combate de Black Myth Wukong é extremamente rápido; há diversos bosses com combos rápidos e prolongados, o que requer que tenhas reacções rápidas para te conseguires esquivar de tudo. Vou sublinhar: este não é um jogo fácil. Claro que com a prática vais melhorar, mas a curva de aprendizagem é íngreme até ao final. Quando pensas que já viste o pior que o jogo tem para oferecer, eis que és surpreendido por outro boss que consegue ser ainda pior do que o anterior.

Para além do bastão de Wukong com o qual acertas nos inimigos, Black Myth permite trocar entre estilos três estilos de combate (cada um tem vantagens e desvantagens, mas o esquema de botões é igual) e usar feitiços que consomem a barra de mana. Tenho que dizer que os feitiços são brutais e realmente acrescentam algo de novo a este estilo de jogo. O feitiço de imobilizar bloqueia completamente o movimento do adversário, ficando imóvel durante os segundos e completamente exposto. Tens outro feitiço em que ficas invisível e invulnerável. Também te podes multiplicar e criar várias cópias de Wukong. Mas a minha favorita, isto já na recta final do jogo, foi o anel de fogo. Dentro do anel, não só recuperas vida como ganhas foco mais rápido. O foco é importante para causar bom dano aos adversários através dos ataques pesados. É através destas combinações, entre feitiços, armadura e outra variáveis, que Black Myth Wukong ganha complexidade.

O jogo tem ainda um sistema de espíritos: são inimigos que foste derrotando ao longo da história, em que no final colocaste o seu espírito dentro de uma garrafa. Estes espíritos podem ser equipados. Cada espírito tem um bónus associado e podes transformar-te neles a meio do combate. Fora isto, há outro tipo de transformação, associada aos feitiços, mais duradoura e que pode ser evoluída através da árvore de habilidades. Portanto, um jogo que parecia simples inicialmente, em que bastava metralhar no botão de ataque, torna-se num jogo bem mais complexo em que tens de considerar várias variáveis e usar tudo ao teu dispor para vencer os bosses.

O jogo está bem optimizado?

Antes de mais, Black Myth Wukong é um jogo visualmente impressionante, desenvolvido no Unreal Engine 5, com belos efeitos visuais, texturas de elevada qualidade, e alguns níveis vastos (não é um mundo aberto, mas tem áreas abertas e com muita exploração). A verdade é que a optimização podia ser melhor e deixa um pouco a desejar porque afectou a experiência e os combates. Às vezes o jogo não regista as nossas acções: a mais comum é carregares no botão para beberes do frasco de vida e não acontecer nada. Também podem acontecer soluços da framerate a meio de combates, o que é péssimo... num momento crítico pode significar perderes contra um boss e ter de começar de novo. Não tenho nada contra jogos difíceis e desafiantes, mas se vais exigir que os jogadores deem o seu melhor, então não podes ter falhas deste tipo. Compreendo que é um jogo ambicioso de um estúdio que só agora ganhou o pedigree, mas estas falhas existem e não podem ser ignoradas ou desculpadas.

Quanto dura Black Myth Wukong?

Como já havia explicado aqui, Black Myth Wukong durou pouco mais de 49 horas. É um jogo grande e não corresponde aqueles relatos iniciais de que demorava entre 15 a 30 horas. Francamente, não sei como alguém poderia terminar o jogo tão rápido na primeira playthrough. A aventura de Black Myth Wukong está dividida em 6 capítulos. No final de cada capítulo encontras uma das relíquias necessárias para libertar o Wukong original da sua prisão (no início do jogo fica aprisionado numa pedra e espalha 6 relíquias pelo mundo). O primeiro capítulo funciona mais como um tutorial e tem uma natureza linear. Os seguintes capítulos são maiores e com maior liberdade de exploração. Há níveis que podem ser particularmente confusos, como o capítulo 3, que foi onde senti mais falta de um mapa (o jogo não tem). Cada capítulo tem ainda uma área secreta. Aliás, o jogo está repleto de segredos e por isso para aproveitares ao máximo vais ter de recorrer a guias. Uma quest log para sabermos que quests temos activas não era uma má ideia.

Prós e contras de Black Myth Wukong

Prós

  • Uma aventura épica com muitos bosses para enfrentar

  • Sistema de combate aparentemente simples, mas com complexidade escondida

  • Cenários lindíssimos no Unreal Engine 5

  • Boa longevidade e muitos segredos para descobrir

  • Inspira-se noutros jogos, mas consegue dar um twist positivo à fórmula

  • New Game Plus aumenta ainda mais a longevidade

Contras

  • Falta de optimização no PC e PS5

  • Alguns bosses são demasiado frustrantes

  • Um mapa e quest log tornariam a experiência menos depende de guias

O Geekinout.pt comprou a cópia de Black Myth Wukong para análise através do Instang-Gaming.

Uma medalha para jogos, filmes ou produtos ostentam qualidades que os elevam a um patamar de excelência, proporcionando uma experiência extraordinária.

Veredicto

Black Myth: Wukong é uma excelente opção para os amantes de ação e mitologia chinesa. A Game Science entrega aqui um mundo rico e vibrante, repleto de criaturas fantásticas e batalhas épicas que nos deixam agarrados ao jogo (mesmo quando estamos frustrados). O combate, apesar de acessível, esconde camadas de profundidade que recompensam a exploração e experimentação. A longevidade é garantida pela vastidão dos níveis e pelo New Game Plus, que convida os jogadores a repetirem a experiência com todos os upgrades e feitiços desbloqueados desde início (entre os fãs, dizem que é a playthrough de vingança). No entanto, não está isento de falhas. A otimização deixa a desejar e a frustração pode bater à porta em alguns confrontos contra os bosses mais desafiadores que podem facilmente saltar a cerca para território injusto. A ausência de um mapa e quest log também pode tornar a jornada um pouco mais árdua para aqueles que preferem uma experiência mais guiada. Apesar desses pontos negativos, Black Myth: Wukong é facilmente uma das grandes surpresas de 2024. É um jogo que merece ser jogado por quem adora jogos desafiantes, mesmo com suas imperfeições. A Game Science criou um universo memorável e um protagonista icônico, deixando-nos curiosos com o que está para vir no futuro, seja na expansão já confirmada, seja numa sequela (que parece ser inevitável).

Autor

Jorge Loureiro
Fundador da GeekinOut

O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.