Não é segredo que Hollywood está por uma fase de criatividade baixa. Não admira, por isso, que estejam a crescer o número de filmes baseados em videojogos, que estão a servir de material criativo numa indústria em queda depois do gigante boom dos super-heróis, ou então sequelas de filmes adorados. Gladiador II claramente encaixa nesta última categoria. 24 anos depois do primeiro filme, que se tornou num dos filmes mais aclamados no início do milénio, o realizador Ridley Scott materializou uma continuação.
O primeiro Gladiador é um dos meus filmes favoritos de sempre, mas digo desde já que o segundo filme é completamente desnecessário. É uma história que tenta desesperadamente justificar pequenas pontas soltas do anterior e apostar tudo na nostalgia e legado para tentar convencer o espectador que é digno de existir. Excluindo a acção teatral, que em Gladiador II está mais grandiosa com batalhas de barcos no Coliseu e gladiadores montados em rinocerontes, este segundo filme fica a milhas de replicar o carisma imediato do primeiro.
Sobre Gladiador II
Realizador: Ridley Scott
Género: Épico, acção, drama
Data de estreia: 14 de Novembro
Duração: 2h28m
Onde ver? Cinemas
A história parece forçada, desenhada para ter ligações com o filme anterior, quando não havia necessidade nenhuma de tal. Se Ridley Scott queria fazer Gladiador II, estava no seu direito. Mas numa História tão rica e vasta como a de Roma, era perfeitamente viável fazer a história de outro gladiador qualquer sem tentar criar ligações com uma história que, francamente, foi pensada para ter um ponto final no primeiro filme. Tanto é que o argumento que sustenta esta continuação é fraco, para não dizer sem sentido.
Gladiador aposta numa fórmula semelhante que já tinha resultado no filme anterior, mas com um twist no final para não ser a mesma coisa. Temos não um, mas dois imperadores odiáveis que usam o poder a seu belo prazer, não importando se causam sofrimentos aos outros. Paul Mescal (Lucius) é convincente como gladiador, mas nunca nos sentimos ligados à sua personagem. As suas acções na arena são quase sobre-humanas, roçando o limite do exagero, pelo que nunca sentimos que está em perigo. Isto corta completamente a tensão.
Embora a narrativa de Gladiador II falhe em capturar a intensidade e a profundidade do filme original, um dos aspectos que merece destaque é a prestação dos seus atores, especialmente Denzel Washington, com uma presença magnética e elemento chave no desenvolvimento da história. Consegue imbuir a personagem com uma mistura de carisma e gravitas, de forma a que mesmo nas cenas banais e diálogo frouxo, a sua presença seja valiosa. A sua interacção com Paul Mescal, que interpreta o jovem gladiador Lucius, cria uma dinâmica interessante e que salva o filme do aborrecimento total.
No que toca à cinematografia, Gladiador II apresenta um visual imponente e grandioso, refletindo a ambição de Ridley Scott em replicar, ou até superar, a magnificência do original. No entanto, embora o filme tente deslumbrar, a sua abordagem à imagem parece, por vezes, excessivamente indulgente, abusando de planos largos e de um uso excessivo de efeitos digitais que, ao invés de embelezar, acabam por diluir o realismo que caracterizou o primeiro filme. Além disso, o uso do CGI não é melhor. Grande parte do filme parece artificial; não sentimos que a Roma que está ali representada no grande ecrã é palpável.
Veredicto
Em resumo, Gladiador II não consegue capturar a magia do seu predecessor, seja pela fraqueza do argumento ou pela tentativa forçada de reviver uma história que já havia sido concluída de maneira satisfatória no primeiro filme. A nostalgia é um truque evidente para tentar ganhar a atenção do público, mas o enredo fraco e as tentativas de vincular a trama a um legado do passado deixam o filme desarmado como um gladiador na arena. Resta saber agora se o público vai conceder misericórdia ou morte.
Jorge Loureiro
O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.
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