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Kraven: O Caçador (crítica) - Será que a Sony finalmente acertou?

Kraven: O Caçador critica
Crédito da imagem: Sony Pictures

Kraven: O Caçador é o sexto filme integrado no Spider-Man Universe da Sony Pictures. O primeiro filme que iniciou este universo partilhado, composto por diversas personagens das bandas desenhadas do Homem-Aranha, foi Venom (2018). Desde então, seguiram-se vários outros filmes, como Morbius (2022), Madame Web (2024), e mais recentemente, Venom: A Última Dança (2024). Este conceito de um universo partilhado é claramente inspirado no que a Marvel está a fazer há mais de uma década, no entanto, como a Sony Pictures só tem os direitos cinemáticos de Spider-Man, a sua liberdade criativa está, desde logo, limitada.

Estes filmes existem à parte do entusiasmante Universo Cinemático da Marvel e – isto não é segredo – têm tido dificuldade em captar a atenção dos fãs, particularmente depois da péssima recepção de Morbius e Madame Web (a trilogia de Venom foi melhor recebida e teve melhores resultados). Acredito, no entanto, que devemos dar uma oportunidade às coisas e não julgá-las de antemão. Por isso, esta semana desloquei-me à antestreia de Kraven: O Caçador que decorreu no Norte Shopping. Será que vale a pena assistir ao filme? Será que respeita as origens da personagem? Vamos lá então responder.


Sobre Kraven: O Caçador

  • Estreia em Portugal: 12 de Dezembro de 2024

  • Título original: Kraven The Hunter

  • Realizador: J.C. Chandor

  • Duração: 2h07m


Kraven: vilão ou anti-herói?

Se acompanhaste os desenhos animados ou bandas desenhadas, então sabes que Kraven é um vilão introduzido nos quadradinhos de Spider-Man. Kraven é um caçador com poderes sobre-humanos que adora caçar e está sempre à procura de um desafio que coloque as suas habilidades à prova. No entanto, na versão da personagem que temos no filme, Kraven claramente está inserido na categoria de anti-heróis – pessoas com super poderes cuja bússola moral oscila entre actos bons e actos maus. No filme, não adora caçar, prefere conviver e respeitar os animais, uma mudança que certamente foi feita para não chocar as audiências modernas, mais conscientes e pouco tolerantes ao sofrimento dos animais. No filme da Sony Pictures, quem adora caçar é o pai de Kraven, que obriga os seus dois filhos a caçar para provarem a sua masculinidade e perderem o medo.

A história de origem mostrada em Kraven: O Caçador, apesar de aproveitar vários elementos, é substancialmente diferente do que temos nas bandas desenhadas. Portanto, se és daqueles fãs puristas que acha que o material fonte tem que ser respeitado, então não vais gostar do filme porque, no fundo, Kraven é uma personagem completamente diferente. É difícil imaginar a versão de Kraven que temos neste filme a perseguir e a combater contra Spider-Man, porque não consigo imaginar qual seria o seu motivo. Apesar de vermos o lado selvagem e violento de Kraven em várias cenas, ultimamente a adaptação da Sony Pictures quer passar a imagem de good guy. Isto é obviamente um problema, porque Kraven é um vilão.

Kraven: O Caçador é um mau filme?

Tendo em conta as limitações óbvias que já citei no início, Kraven: O Caçador funciona razoavelmente como um filme isolado e vai entreter que gosta de filmes de super-heróis, se estiveres disposto a fazer algumas concessões. O filme explica os problemas familiares de Sergei Kravinoff (aka Kraven), a fricção com o seu pai Nikolai, onde ganhou os seus poderes, e como a sua missão de vida se tornou caçar pessoas más com grande influência, sobretudo traficantes de armas e caçadores furtivos.

Com Kraven a assumir o papel principal e de herói no filme, os vilões que acaba a enfrentar pertencem também ao universo de Spider-Man. O filme coloca Alessandro Nivola como Aleksei Sytsevich (Rhino). Novamente, a versão da personagem que temos no filme é, também, diferente da sua história de origem nas bandas desenhadas. Menos conhecido é a personagem The Foreigner, retratada no filme por Christopher Abbott, um mercenário e assassino com poderes hipnóticos.

Apesar das adaptações significativas feitas à história e à personalidade de Kraven, o filme consegue criar um enredo coeso que funciona como uma experiência cinematográfica isolada. Aaron Taylor-Johnson entrega uma interpretação sólida e convincente como Sergei Kravinoff (Kraven), mostrando as várias facetas da personagem. A melhor prestação vem do experiente Russell Crowe, com desempenho intenso como Nikolai Kravinoff, que captura o caráter imponente e autoritário do pai de Kraven.

Este é o símbolo para jogos, filmes ou produtos assim-assim. Têm tanto de bom como de mau. Ainda podes gostar e desfrutar deles, se estiveres disposto a ignorar certas coisas.

Veredicto

No entanto, o filme tropeçou logo na sua concepção, ao tentar mudar a essência de Kraven como vilão. Esta escolha criativa não só enfraquece a narrativa para os fãs das bandas desenhadas, como creio que torna o filme inviável para um universo onde Spider-Man existe. Fora isto, a implementação de CGI em várias cenas podia ser melhor. Nota-se perfeitamente a artificialidade dos vários animais que surgem ao longo do filme. As cenas de acção e combate estão bem concebidas e transmitem o lado feroz e brutal de Kraven. Este é garantidamente um filme que vai dividir opiniões. Porém, se procuras um filme de ação ligeiro, sem grandes expectativas de fidelidade ao material original, há escolhas bem piores.

Autor

Jorge Loureiro
Fundador da GeekinOut

O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.