Dragon Age: The Veilguard derrota a narrativa "Go Woke, Go Broke"
- por Jorge Loureiro
- 1 de novembro, 2024
- 5
O mantra "Go Woke, Go Broke" espalhou-se pelas caixas de comentários da Internet ao longo de 2024, mas nunca passou de um eco vazio e sem fundamento, fruto de extremismo cego e sem qualquer ponta de lógica ou verdade.
Faz parte de uma narrativa de que certas temáticas não são importantes nos videojogos, de que os jogadores não querem saber disso para nada, e que a abordagem de qualquer conteúdo relacionado com DEI (Diversidade, Equidade e Igualdade) é prejudicial para o sucesso comercial de um jogo.
Um dos exemplos mais frequentes para justificar esta linha de pensamento é Concord, o título multiplayer da PlayStation que alegadamente custou $400 milhões para desenvolver e que foi um falhanço, acabando com os servidores desligados duas semanas após o lançamento.
Pessoalmente, além de me parecer ridículo etiquetar os jogos como woke e não-woke como se estivéssemos nalgum campo de concentração, nunca me pareceu que o problema fosse a inclusão de DEI nos videojogos, mas sim a qualidade. Um jogo mau é mau; não importa realmente os temas que aborda. E um jogo bom é bom. Há jogos sem DEI que também são enormes falhanços, mas claro... isso não contribui para a falsa narrativa que se criou.
Dragon Age bate recorde da EA no Steam
Contrapondo esta falsa narrativa, já tivemos exemplo de jogos com DEI que são enormes sucessos: The Last of Us, Baldur's Gate 3, Mass Effect, Marvel's Spider-Man, Valorant, Overwatch, League of Legends (um dos jogos mais jogados do planeta), entre outros. Agora, existe mais um a juntar a esta lista: Dragon Age The Veilguard. O novo jogo da Bioware já se tornou no melhor lançamento single-player da EA no Steam com um pico de 70,414 jogadores (via IGN). Ainda não foram reveladas as vendas em todas as plataformas, mas a quantidade de jogadores no Steam revela um futuro promissor.
No entanto, se seguirmos as falácias de extremistas como Mark "Grummz" Kern (foi o produtor de Diablo II), era impossível que Dragon Age: The Veilguard tivesse sucesso porque é um jogo woke. E os jogadores não querem jogos Woke, certo? Os jogos woke são automaticamente falhanços de vendas, certo? A realidade é bem diferente.
Há, de facto, jogadores que não se importam se um jogo inclui ou não elementos de DEI. Para muitos (eu incluído), não é um factor determinante na decisão de compra, mas a inclusão de representatividade é uma mais-valia. Os jogadores apreciam sentirem-se representados, explorar a liberdade na criação de personagens e interagir com uma diversidade de interesses amorosos dentro do jogo.
Já havia jogos DEI antes do termo sequer existir
Os jogos da Bioware foram pioneiros neste tipo de inclusão. Desde há muito tempo, quando ainda nem se falava neste termo, que os jogos da Bioware são DEI. E só quem nunca jogou Dragon Age ou Mass Effect, e estivesse completamente desligado da realidade, é que acharia que isso seria prejudicial para as vendas da The Veilguard.
É provável que estes discursos radicalistas fiquem piores no futuro. São o reflexo de uma polarização da política e do mundo no geral. Quando pessoas tão influentes e poderosas como Elon Musk usam discursos radicais e intolerantes, não é surpreendente que acabe por influenciar as pessoas.
Embora os jogadores gritem frequentemente que não querem política nem agendas nos seus videojogos, o discurso "Go Woke, Go Broke" faz precisamente parte de uma agenda política, de uma tentativa de subverter o mundo de volta aos valores tradicionais. Um mundo em que pertencer a uma minoria é motivo de vergonha, justificação de ódio e de preconceitos.
Jorge Loureiro
O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.
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4 Comentários
Efetua login para comentarNero Stark
Jorge, concordo com tudo o que dizes. O que disseste fez me lembrar aquela buzzword que agora anda na net "the boy who cried woke" e um exemplo disso, foi ver a disparidade de comentários na net acerca da aparencia da Angela no Silent Hill 2 Remake, dizendo que a aparencia da personagem tinha sido alterada para pior e que agora é feia. Quem conhece o jogo e a historia desta personagem, sabe que este tipo de afirmações são tristes e deprimentes. Enfim...
Nero Stark
Antes demais, existe uma coisa que tem de ser tida em conta e que passa ao lado de muita gente, que para mim é uma falácia, que é, se eu pertencer a uma minoria, preciso de ter uma personagem que me represente para me poder identificar com ela. E dou te um exemplo, eu sou gay e o meu personagem favorito num videojogo é o Cloud do FFVII, que não é gay. Identifico me com ele, devido ao background dele e as relações que ele tem com outros personagens. Ao dizerem que eu preciso de um personagem gay para me representar, estão a dizer que a minha orientação sexual é o que me define, e isso para mim soa-me a insulto, pois a minha sexualidade é um dos muitos aspectos que me define. No que se refer à polarização, sim ela existe e se pensas que uma boa parte de quem implementa ou financia as práticas de DEI são pessoas com boas intenções, enganas-te. É só investigares por ti mesmo. Mas isso são outros 500 e é um assunto que não é para ser discutido numa secção de comentários.
Jorge Loureiro | Fearme
Boas. Eu não acho que todos os jogos precisam de ter uma personagem para me representar; longe disso. Isso afectaria a liberdade criativa dos produtores. Se estive espaço para isso, seja por exemplo em jogos que te permitem criar a tua personagem, é fixe incluir.
Agora o que tenho visto é que parece proibido incluir qualquer coisa relacionado com DEI. Basta ver as campanhas de ódio que têm existido este ano. O DA Veilguard já está a ser bombeardado de reviews negativas no Metacritic sem justificação válida. O argumento é logo que não parece natural, que é forçado.
Parece que tens de pedir permissão para incluir qualquer coisa relacionado com DEI, como se não fosse uma reflexão da mudança que a sociedade está a passar.
Felipe João Bolin
Devo dizer que, em tempos como hoje, nosso problema não é a polarização, muito menos a politização, mas a politização com políticas e doutrinas excludentes, como as que utilizam-se do termo woke, que tem por objetivo apenas perseguir e excluir minorias de todos os tipos. Em tempos como esse, portanto, politizar com políticas inclusivas é essencial e deve sim ser incentivado, patrocinado e expandido.
Nero Stark
Concordo com o que escreveste. O facto de ter DEI não é factor determinante para dizer se um jogo é automaticamente bom ou mau. O que tenho notado é que existem jogos (e o mesmo aplica-se a filme e séries) que dão somente importãncia ao facto de ter DEI, mas a forma como implementam ficam a desejar e acabamos por ter algo com um enredo sem cabeça, tronco e membros. Infelizmente nota-se uma autêntica polarização e todo este cenário faz-me lembrar o lema "divide and conquer". As pessoas têm de se mentalizar que é mais aquilo que nos une do que nos separa.